O bom, o ótimo e o ajustável: 10 lições que 52 meses de trabalho remoto na Supersonic me ensinaram
Última atualização: novembro 27, 2020E lá se vão quase 5 anos desde o início da Supersonic e seu trabalho essencialmente remoto.
Com pontos negativos e todos os seus pontos positivos, a modalidade de teletrabalho tem valido a pena? Como fica a balança?
O primeiro ponto que vale comentário é que com lados bons ou lados ruins, não existiam muitas opções quando, em 2013, sem escritório, sem dinheiro para investir e com apenas dois Notebooks e uma ideia na cabeça, eu e Rafael Damasceno “calmamente” comunicamos para as respectivas esposas em um distante Novembro: “- a partir de amanhã, eu trabalho em casa.”
E assim surgia a Supersonic, trabalhando 100% remotamente e em uma época em que, pelo menos no Brasil, o tema era minimamente discutido e ainda menos aderido.
Nós ficaríamos aqui um tempo razoável passando por uma lista com quilômetros de pixels de pesquisas e estudos mostrando como a adesão do trabalho remoto por empresas e profissionais tem explodido nos últimos anos, o que indica que, muito em breve, se você não atua remotamente em algum momento da sua semana, pode ser que você pelo menos esteja interagindo com pessoas ou com times inteiros que estão trabalhando de suas casas, de um café, ou outro local que não seja um escritório.
Pelo menos nos segmentos de Marketing e Tecnologia, onde estamos inseridos.
E os motivos para essa tendência possivelmente ser um caminho sem volta são algumas dezenas. Pra citar alguns:
- aumento da adesão de tecnologias de computação em nuvem, facilitando compartilhamento de arquivos e trabalho colaborativo em tempo real;
- disponibilidade ampla de internet banda larga e tecnologias de comunicação por voz e vídeo;
- demanda crescente por maior qualidade de vida pessoal e profissional;
- a piora do trânsito e o nível dos serviços de transporte público no Brasil, que não acompanham o desenvolvimento populacional das grandes metrópoles;
- a necessidade de empresas atenderem clientes também em outros países, como é nosso caso aqui na Supersonic.
“O bom… O ótimo… O ajustável… Ah, claro! Trabalho remoto então não tem lado negativo?”
Ouvi isso daqui quando você perguntou, ao ler o título.
Com tamanha tendência de adesão e uma lista de benefícios sólida, prefiro considerar os possíveis pontos negativos da modalidade como pontos ajustáveis, onde cada um vai ter que contornar da forma que melhor encontrar para que os benefícios se sobressaiam.
E nestes mais de 4 anos trabalhando dessa forma, algumas lições que eu e o time da Supersonic aprendemos são valiosas e podem ser de ajuda, principalmente se você nunca experimentou a modalidade.
Lição #1: do dia para a noite, você vai ganhar uma tonelada de liberdade. E vai precisar aprender a lidar com ela.
Almoçar no horário que preferir, ouvir música sem fones de ouvido, agendar algum compromisso pessoal às 15h…
A lista de pequenas liberdades que o trabalho remoto traz é infinita. É talvez um dos maiores benefícios dessa modalidade de trabalho e proporcionalmente a maior armadilha do teletrabalho. Sem gestores, colegas, sócios ou qualquer outro profissional ao seu lado durante a jornada de trabalho, NetFlix, vídeo games, livros, Facebook, sites de notícias ou a própria cama podem se tornar inimigos maiores do que para a maioria das outras pessoas, trabalhando em escritórios pela cidade. E para aqueles que ainda tem maior tendência a ter amizade com o monstro da procrastinação, o risco é grande.
Mesmo no trabalho remoto, algumas empresas são mais rígidas, outras mais flexíveis. Cabe a cada profissional se ajustar com o tempo à cada modelo e usar os níveis de liberdade e confiança que recebe.
Na Supersonic tentamos desde o início trazer o conceito de liberdade no nível mais extremo: cada integrante do time tem liberdade para organizar sua forma de trabalho, seus horários, suas reuniões e suas tarefas da forma que achar mais adequada. Menos micro-gerenciamento, mais foco na qualidade do resultado final, que é o que nossos clientes realmente esperam de cada entrega que nos propomos a fazer.
A melhor forma de lidar com todas essas possibilidades e responsabilidades?
Para a Supersonic, Extreme Ownership. Um conceito que prega que disciplina inter-pessoal é benéfica e se traduz em mais liberdade. E que cada um, líder ou não, deve ter o mais alto nível possível de responsabilidade e evitar desculpas em relação à tudo aquilo em que está envolvido.
Lição #2: trabalho remoto exige mais produtividade, não menos.
Algumas pessoas ainda tem a falsa ilusão que, ao trabalhar remotamente, com um ritmo diferente e menos supervisão direta, poderão produzir menos (em quantidade ou qualidade) e que isso passará despercebido. Errado. Os benefícios que a modalidade traz podem e devem ser utilizados para que o fluxo de trabalho seja feito de forma mais inteligente e que isso se transforme em mais produtividade. Trabalho com mais qualidade feito com menos esforço (mental e físico) e com mais satisfação pessoal e profissional. Essa é a premissa básica.
Reuniões presenciais intermináveis, jornadas extras, interrupções desnecessárias a todo momento. Estes são apenas alguns dos vilões que, geralmente, o trabalho remoto remove da rotina de um profissional e podem deixá-lo mais produtivo.
E se aliado à isso estiverem algumas técnicas e ferramentas, a produtividade pode atingir alguns níveis muito interessantes. Algumas que valem conferir são:
Técnica Pomodoro
De forma resumida, trata-se de um método de gerenciamento de tempo desenvolvido por Francesco Cirillo no final dos anos 1980.
A técnica consiste na utilização de um cronômetro para dividir o trabalho em períodos de 25 minutos, separados por breves intervalos (geralmente de 5 minutos). Variações desses intervalos também podem ser aplicados, como períodos de 55 minutos com 5 minutos de intervalos e outros. A ideia é que, a cada pausa (utilizada para alguma tarefa não relacionada com o trabalho sendo executado), o indivíduo ganha em agilidade e energia mental, uma vez que forçará o cérebro a interagir com outras perspectivas e elementos, aumentando assim a criatividade e a capacidade de execução.
Dezenas de pesquisas já apontaram como grandes períodos de trabalho intermitente atrapalham a criatividade e o processo produtivo. Ao invés de trabalhar de forma sequencial por 2H em uma apresentação, por que não trabalhar em 4 períodos de 25 minutos com pequenos intervalos de 5 ou 2 grandes períodos de 55 minutos com 2 pausas de 5 ou 10 minutos? Dica extra: se você trabalha essencialmente em frente à um computador, prefira usar seus períodos de intervalo longe dele. A diferença é enorme.
Trello
Queridinho de muitos, o Trello é incomparável na missão de separar tarefas em etapas de execução, como por exemplo as clássicas divisões de “A fazer”, “Fazendo” e “Feito”, presentes nos métodos ágeis de desenvolvimento de projetos. A interface simples baseada em um kanban e a usabilidade baseada em drag and drop de tarefas ajudam muito a manter as coisas em ordem.
Todoist
Para nunca mais culpar a memória por uma tarefa que ficou esquecida em algum momento ou lugar, ferramentas de lembretes, notas e listas de tarefas ajudam muito a esvaziar as preocupações dos nossos dias cada vez mais atribulados. Ter ferramentas que “lembram de tudo por você” podem ser de grande ajuda para focarmos na execução de cada uma delas. Para os amantes da suíte Google, o Keep é outra opção bem simples e eficaz.
E ainda na temática produtividade, um alerta se faz cada vez mais necessário:
Se você não ficar atento, trabalhando remotamente você pode acabar trabalhando mais do que deveria.
Mesmo com um cômodo separado na casa para fins de escritório, a divisão casa-trabalho é um desafio. Para muitos, dar aquela passadinha nos e-mails às 23h ou em um momento de insônia pode se tornar uma constante, trazendo uma ansiedade desnecessária que pode contribuir para a diminuição da produtividade. A premissa do teletrabalho sempre será o equilíbrio.
Lição #3: você precisa encontrar o seu próprio ritmo.
Começar mais cedo e terminar mais cedo ou começar mais tarde e terminar mais tarde?
Fazer mais ou menos intervalos durante o dia?
Trabalhar mais em casa ou mais em um café perto de casa?
A quantidade de sono está adequada ou precisa de ajustes?
Com música ou sem música?
As escolhas vão até mesmo entre trabalhar a maior parte do dia sentado ou em pé.
Não existe receita de bolo, existe o melhor modelo para você.
Lição #4: comunicação escrita e verbal é muito diferente de comunicação presencial.
Principalmente para determinadas posições e áreas, como por exemplo times de vendas, ter contato mais próximo com possíveis clientes e até mesmo com colegas tem um impacto enorme.
A adaptação inicial exige maior esforço e pode ser facilitada por comunicação em tempo real (telefone e vídeo conferências, sobretudo), ao invés da utilização de mensagens unicamente assíncronas, como por exemplo e-mail e discussões em softwares de gestão de projetos. Encontros presenciais regulares – quando possíveis – e para temas específicos também podem auxiliar bastante na evolução da modalidade.
Outro fator determinante nesse sentido é a velocidade: uma ligação de 5 minutos consegue muitas vezes evitar uma thread de 40 e-mails que levaram 2 horas para serem redigidos no total.
Lição #5: trabalho remoto não precisa ser trabalho solitário.
Um fato é: você vai ter menos contato humano, pelo menos da forma tradicional do mundo de negócios.
E isso é bom ou ruim?
Algumas pessoas acham essa característica o melhor benefício dentre todos os proporcionados pelo modelo Remote. E não dá para culpar essas pessoas, que em sua maioria passaram anos tendo seu trabalho presencial minado por milhares de interrupções e reuniões em sua maioria desnecessárias.
Para as que acham essa “solidão” um ponto contra, novamente o equilíbrio é a palavra e as empresas podem auxiliar neste sentido.
Além de estimular encontros virtuais (incluindo o uso de vídeo) para que os membros dos times resolvam questões de forma mais pessoal, próxima e muitas vezes mais rápida, encontros presenciais esporádicos também podem ajudar muito nesse sentido. Tanto para atualizações específicas de questões de trabalho ou apenas pra por o papo em dia mesmo.
No nosso caso, no decorrer do ano temos uma série de encontros presenciais com todo o time (ou parte dele) exatamente para estreitar o relacionamento e alinhar questões fundamentais.
Faz toda diferença. Inclusive, recentemente a Supersonic, empresa remota desde o dia 0, passou a contar com um escritório físico, para reunir mais facilmente o time de tempos em tempos e também para funcionar como um espaço reservado de trabalho, para aqueles que estiverem em Belo Horizonte e quiserem variar um pouco do ambiente de casa. Sem horários pré-determinados, sem obrigações de presença.
Lição #6: trabalho remoto não respeita fronteiras. E isso é excelente.
Na Supersonic o desafio era muito claro antes mesmo de termos um nome para a empresa: para trabalhar com disciplinas tão diferentes do Marketing Digital sendo canalizadas para uma área de atuação tão nova no Brasil (CRO – Otimização de Conversão), iríamos precisar de pessoas de alto nível e dos mais variados perfis de atuação, capacidades técnicas e históricos profissionais.
Do contrário, não conseguiríamos atuar em alto nível. E a única forma que imaginamos para essa atuação foi contar com um time de pessoas de qualquer cidade, qualquer estado ou até mesmo qualquer país. E assim foi e se mantém até hoje. Temos pessoas alocadas em vários estados e cidades brasileiras e já tivemos algumas vezes parte do time atuando normalmente fora do país.
Lição #7: trabalho remoto serve sim para qualquer idade.
A média de idade na Supersonic é 34 anos. A pessoa mais nova do time tem 22 anos. A mais experiente, 61.
E em um time de 17, onde as funções técnicas e estratégicas são as mais diversas possíveis, ver as características do trabalho remoto funcionando em todos os perfis e para todas as idades é um exercício muito, muito interessante de se acompanhar.
Lição #8: trabalho remoto abre a porta de uma rotina saudável (e que você deveria usar).
É matemático: se você mora em uma grande métropole, as chances são grandes de você perder, no mínimo, 1 hora diária com deslocamentos. Se você mora em São Paulo, pode ser que gaste mais de 3 horas diárias para ir e voltar do trabalho, como alguns profissionais que conheço. Trabalhando remotamente, esse tempo pode ser utilizado para uma infinidade de coisas, entre elas, cuidar melhor da saúde. O que, obviamente, impacta diretamente em sua performance no trabalho mas também em sua auto-estima, satisfação pessoal, confiança e ânimo. Fazer exercícios regularmente, seguir uma dieta melhor e até mesmo, acredite ou não, ir ao médico. Nós nos assustaríamos com o número de pessoas que não vão ao médico para simples exames de rotinas por simplesmente, “não terem tempo” para isso.
Lição #9: trabalho remoto ajuda no desenvolvimento pessoal e cultural.
Com as horas a mais que você ganha por estar fora do trânsito ou com as pequenas flexibilidades como definir horários de almoço, horários de início e fim da jornada e outras, fica muito mais fácil encaixar na rotina atividades que de outra forma seriam impensáveis. Cozinhar, assistir filmes ou seriados, dedicar mais tempo para leitura, meditação, passar mais tempo com animais de estimação, estreitar o relacionamento com parentes, manter a casa mais organizada e várias outras atividades podem ser incluídas na vida de qualquer pessoa com um bom planejamento baseado em trabalho remoto.
Fugir de comida de self service, ler livros que estavam encostados na estante há tempos, assistir jogos da UEFA Champions League enquanto se executa tarefas de menor complexidade, ter melhores períodos de sono, terminar 9 temporadas de Seinfeld no almoço, viajar e conhecer vários países enquanto se trabalha normalmente… São apenas algumas das possibilidades que profissionais remotes me confidenciaram se orgulhar de ter incluído em suas rotinas. E tudo isso ao verem sua performance de trabalho aumentar, ao invés do contrário.
Lição #10: as pessoas vão sim achar que você trabalha menos, estando o dia todo em casa.
Indiscutivelmente uma das maiores verdades do trabalho remoto: alguns parentes, amigos e colegas vão acreditar de forma veemente que por trabalhar em uma rotina flexível você trabalha menos. Ou que simplesmente não trabalha.
De pedidos de auxílio no recebimento de entregas, passando pelas tarefas domésticas das mais variadas possíveis, o arsenal dos non-remotes é grande. E aqui inclui-se também a lembrança de que um outro grupo que nunca vai aceitar que você esteja trabalhando, estando em casa: cães, gatos e quaisquer animais presentes na vizinhança podem ser presença constante no dia-a-dia destes profissionais, o que vale como um lembrete, inclusive, para que alguns cuidados sejam tomados para que os clássicos latidos, miados e demais sons animais não sejam presença constante em momentos importantes do dia-a-dia, como conferências com clientes, colegas e parceiros.
E sobre as clássicas piadas direcionadas aos profissionais que trabalham remotamente, a dica é… nenhuma. Até porque, “trabalhar mais” nunca fez de ninguém mais produtivo. E afinal, convenhamos, é difícil tirar do sério quem está trabalhando no conforto do lar com a flexibilidade, a liberdade e a ausência de trânsito que só o Remote proporciona 🙂
Gostou do tema e quer mais informações a respeito?
Esta semana, em uma iniciativa do Trello Brasil com várias empresas – incluindo a Supersonic – o Guia Definitivo de Como Aderir ao Trabalho Remoto foi lançado trazendo estratégias testadas e comprovadas por várias empresas líderes em seus segmentos. Vale conferir!
E se você quer conhecer as ferramentas que usamos para nos ajudar diariamente no trabalho remoto, aproveite este artigo do Rafael Damasceno.
Por fim, o livro Remote disseca o assunto com dezenas de pesquisas, possibilidades e dicas práticas de como trabalhar Remotamente em alta performance.
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